Infelizmente sofri um acidente que tem deixado marcas e dores. Rompi o ligamento do joelho, fraturei a tíbia e passei por algumas cirurgias. Na tentativa de recuperar, mas esqueci da saúde mental e cai num buraco sem fim.

Cheguei em maio de mudança em Munique – Alemanha. E desde então comecei a experimentar uma vida que eu ansiava  há tempo. Eu sempre amei a ideia de andar vários quilômetros diariamente. E ir registrando e vivendo isso. E assim que cheguei aqui e cumpri a quarentena obrigatória, pude então começar a realizar esse sonho. (lembrando que sonhos não precisam fazer sentido, mas vivê-los é  incrível)

Eu andava cerca de 15km por dia feliz da vida. Cabeça fluindo e o medo que antes eu tinha de pôr os pés na rua e ser abordada por um policial, sofrer um ataque ou qualquer outra coisa começou a ficar para trás nessa mudança de país.

27-06-2021 domingo

Saímos de casa até um local legal para Alfred pedalar e Lara patinar. Mathias (meu marido) e eu levamos longboard e skate. Foi incrível passarmos a tarde inteira nos divertindo horrores. Aquela semana era a primeira vez que Alfred(meu caçula) andava de bike. Estávamos todos muito felizes de vê-lo fazendo isso com tanta destreza. Ok, bora pra casa que já deu.

Estávamos voltando para casa, rua vazia.

Mathias andava lá na frente para acompanhar Alfred mega empolgado e Lara, enquanto eu vinha a pé carregando meu longboard. 

Olhei em volta uma calçada larga sem ninguém andando, tinha uma mínima inclinação (infelizmente não temos ladeiras aqui kkkk). Coloquei o longboard no chão e iria deixar aquele peso me levar um pouco. Fui no embalo da inclinação. Então acabou e ele já estava praticamente parado e eu pensei, remo e sigo no longboard ou pego ele no colo novamente?

Não deu tempo de eu pensar na resposta, ouvi a buzina insistente de uma bike se aproximando feito jato. Só consegui pensar em puxar o longboard para o canteiro, para que ele não invadisse a avenida e causasse um acidente.

CENA 1 – UMA FILMMAKER CAINDO EM CÂMERA LENTA

Nessa de jogar o longboard para o canto a bike passou colada em mim e eu caí em câmera lenta. Senti antes de chegar no chão que meu joelho tinha saído completamente do lugar.

Enquanto caia eu olhava para o ciclista que agora me encarava por cima dos ombros, dando as costas e seguindo voando de bike pela calçada. 

Caí no chão e gritei por ajuda.

Mathias já estava cruzando a outra esquina e eu comecei assoviar loucamente. Tinham algumas pessoas sentadas num biergarten ao lado e vieram me perguntar se eu queria ajuda. Deus eu não falo alemão tô lascada.

Nisso Mathias percebeu e voltou correndo com as crianças. Eu estava num êxtase de dor e vergonha tão grande que tudo que eu queria era sair correndo dali. Eu jurava de pé junto (ou quase kkk) que eu só havia deslocado o joelho. 

Pedi ajuda pra ficar de pé e então percebi que talvez a m*rda fosse feder.

Meu joelho balançou para frente (sim muita gastura isso). Engoli a dor absurda e entrei num táxi. A dor era monstra, mas a vergonha era mil vezes pior.Eu só queria sair daquele papel de vítima. Como se, não fosse né!? Seja como for, o plano era encontrar alguém que pusesse meu joelho no lugar rápido.

Resumindo, quando cheguei no hospital descobriram que Rompi o ligamento do joelho, fraturei a tíbia arrancando com osso e tudo.

CENA 2 – SERIA CÔMICO SE NÃO FOSSE TRÁGICO : Rompi o ligamento do joelho nessa quedinha?

Rompi o ligamento do Joelho

Primeiro ri horrores, oxi tenho certeza que você no meu lugar também iria cair na gargalhada.

Como assim você cai praticamente parada e Rompe o ligamento do joelho, fratura a tíbia desse jeito? Isso não existe

Minha risada foi embora quando o médico disse, cirurgia! Putz apesar de tremer de medo de qualquer cirurgia(e de lembrar que meses atrás eu já tive que driblar esse medo na cirurgia do Explante de Silicone).

Cara é meu joelho e uma vez mexendo com isso estou mexendo com meu corpo todinho. Eu vivo nesse corpo e esse corpo me transformou em quem sou.

Sai do hospital com a perna imobilizada e com cirurgia marcada para quase duas semanas pra frente. Eu nem contestei a demora pela cirurgia. Já que ouvira que algumas pessoas que rompem o ligamento optaram por não passar por uma cirurgia.

Eu vi esse tempo como uma oportunidade para entender melhor e ouvir outros médicos antes de ir para a mesa de cirurgia.

Foram os piores dias da minha vida. A medicação não era suficiente para tirar aquela dor. Tinha horas que eu gritava de dor e chegou um momento que a dor começou dar espaço para a raiva.

A raiva não fez com que os dias passassem mais depressa. Ao contrário, vivi intensamente cada minuto daqueles dias. Quando chegou o dia da cirurgia eu estava implorando para que eles me dessem logo a anestesia geral. Corrigissem minha perna para me recuperar logo e esquecer aquele inferno.

A cirurgia durou algumas horas e quando acordei meio anestesiada, agradeci imensamente por não sentir dor. Dormi e senti que enfim podia relaxar um pouco.

Mas, como bem sabemos: Nem tudo são flores!

No outro dia já veio o fisioterapeuta me ajudar ficar de pé. Falhei horrores kkk, não conseguia nem usar a perna boa. Ele então me explicou o exercício que eu faria sentada na cama e que no outro dia eu estaria pronta. Foi exatamente isso que aconteceu. No outro dia andei pelo hospital com a muleta, ele me ensinou subir e descer escada. 

Rompi o ligamento do Joelho Rompi o ligamento do Joelho

Passaram alguns dias eu já estava em casa e seguindo à risca as recomendações médicas. Fui colocada numa órtese travada em 20 graus. E teria que começar a fisioterapia quatro semanas depois. Eu torci a cara, achei que aquilo estava errado. Pelo pouco que vim estudando sobre o movimento do corpo, aquilo me parecia arriscado(ficar parada por 4 semanas). 

Mas, eu não entendo nada sobre recuperação de ligamento cruzado anterior e/ou recuperação de tíbia parafusada, então fiquei na minha. Quando enfim comecei a fisioterapia minha perna não esticava e nem dobrava.

CENA 3 – SEJA BEM VINDA AO PESADELO (Rompi o ligamento do joelho e isso não foi o pior)

Rompi o ligamento do JoelhoFicar tanto tempo com a perna imobilizada sem esticá-la por completo foi um erro. Ficar tanto tempo sem movimentar a perna após uma cirurgia foi outro grande erro. Imagina como estava agora minha cabeça e culpa pensando: eu sabia! (nesse meio tempo  consumi todo conteúdo na internet sobre: Rompi o ligamento do joelho).


Ainda assim, foquei na fisioterapia – que choquem – se resumiam em duas sessões de 15 MINUTOS por semana. Sim, foi isso mesmo que você leu, as sessões de fisioterapia duraram 15 minutos. (Não reclamem jamais dos fisioterapeutas brasileiros, você não tem idéia de como aqui é difícil, caro e estranho).

Obviamente que isso nunca seria o suficiente, então foi a partir disso que me desliguei do mundo. Literalmente e passei a me concentrar exclusivamente na minha recuperação. Meu plano foi excluir qualquer ruído que pudesse me afastar do meu objetivo.

Desinstalei as redes sociais, desliguei o celular, desconectei de tudo e passei a me dedicar a movimentar as pernas.

Nesse ponto. voltei a sentir dores fortíssimas. Por outro lado, cada semana voltava no médico sem nenhuma melhora e ouvi dele que esse era o caminho mesmo.

Semanas foram se passando. Então, a fisioterapeuta começou a indagar o médico se realmente seria possível que meu joelho um dia dobrasse. Para completar eu não falo alemão e passar por tudo isso dependendo do meu marido traduzir cada palavra foi exaustivo e deprimente.

Isso tudo começou a me afetar de uma maneira avassaladora. Passei meses sentindo dor, incapacidade, traída pela vida, sujeita a viver isso e por mais que eu me dedicasse nada mudava. 

CENA 4 – SERIA O FINAL? 

Meses se passaram, exatamente oito meses até agora.A minha patela foi encapsulada e o médico concluiu que isso é  uma coisa que meu próprio corpo faz sozinho: cicatriza rápido demais. Oito meses sentindo dor todos os dias e mesmo depois de algumas cirurgias para reparar esse acidente e a primeira cirurgia, meu joelho continua ruim.

Patético eu dizer resumindo, mas juro que estou tentando. Desde a última cirurgia, em forma de alívio a vida me apresentou uma fisioterapeuta brasileira que me atende direito (como a gente faz no brasil).

Aqui cabe um tremendo adendo: Valorizem o SUS! Valorizem os profissionais de saúde no Brasil. Nós brasileiros somos um povo diferente. Que aprendemos desde cedo prevenir. E isso faz uma diferença enorme.

Voltando á fisioterapeuta…Poder me comunicar com ela me trás esperança. Rompi o ligamento do Joelho

Desde que a Andrea começou a me atender estamos vendo a passos bem lentos uma evolução dando as caras. Sai da muleta, voltei a ficar de pé com o corpo reto.

Estou reaprendendo andar e estou mancando menos. Parei de inchar, sinto menos dores e estou pedalando na ergométrica. E na última consulta dia 17-01-22 meu joelho mostrou avanço para dobrar e esticar. 

Sigo praticando diariamente exercício da fisioterapia e agora começando novamente enxergar possibilidades até no retorno com o Yoga.

Ainda vou passar por mais cirurgia para ter o movimento completo, mas estou levando um dia por vez.

Essa experiência desde que Rompi o ligamento do joelho, tem transformado minha vida tanto offline quanto online. Ouvir que eu estava usando esse acidente como marketing para crescer Instagram, me fez sentir nojo da internet. Me manter afastada foi o único caminho que encontrei para conseguir me conectar comigo mesma. Mas, também  amo me conectar e dividir experiências com pessoas na mesma sintonia que eu.

Volto para internet, ou me excluo total dela?

Escolhi retornar, porém, com alguns ajustes necessários pensando na minha saúde mental e social.Além disso, estou nesse momento me adaptando à nova rotina, me dedicando para criar hábitos melhores(já que passei os últimos meses largada total).

Pensei muito nas inúmeras pessoas que durante esses dois anos também tiveram que lidar com traumas, dores, luto, desemprego e mudanças que não escolheram passar.

Contudo, me senti uma fraca: ” Apenas Rompi o ligamento do joelho”. Lutei diariamente para não menosprezar minha dor. Lutei diariamente para deixar de me sentir culpada ou de procurar um culpado. Ainda não sou capaz de dizer que entendo isso tudo. Ou que cresci, aprendi ou enxergo o lado positivo nisso. Pode ser que daqui algum tempo eu veja diferente. Mas, por enquanto é isso: estou apenas tentando focar na recuperação e me livrar da raiva.

Ainda assim, sinto muitíssimo por ter ficado tanto tempo sem explicar tudo que estava e está acontecendo. Mas eu realmente não tinha força ou esperança alguma para conseguir vir falar sobre. Quando na verdade a única coisa que me vinha na cabeça era xingar Deus e o mundo.

Finalmente agora, estou melhorando, driblando ansiedade e tentando ficar bem. Agradeço todo carinho e boas energias.

Até breve


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